O presente Blog é um recurso didático, um repositório de material complementar ao estudo da Ética e da Educação Corporativa. Com esse intuito serão postados links para vídeos, além de breves artigos próprios e passagens de artigos de outros autores. Também agradecemos a sugestão de novos materiais para esse espaço.
Virungaé um documentário de2014dirigido porOrlandovonEinsiedel. O filme retrata o trabalho de conservação dos guardas florestais dentro do Parque Nacionalde Virunga, na República Democrática doCongo,ea atividade de umaempresa petroleira britânica, SocoInternational,que começoua explorar petróleono parque, Patrimônio Mundial daUNESCO, em Abril de 2014. O documentárioconta a história dequatro personagensque lutampara proteger o Virunga (que abriga os últimosgorilas da montanhado mundo)da guerra, da caça ilegal, e da ameaça deexploração do petróleo.Seguindo o cuidador de gorilasAndréBauma, o chefe da guarda florestal do parque RodrigueMugarukaKatembo, o Diretor Chefe do parque Emmanuel deMerode, e a jornalista investigativafrancesa,MélanieGouby, o filme concentra-se nabeleza naturale na biodiversidadedoVirunga, bem como nascomplexas questões políticas e econômicas que envolvem a exploração de petróleo eos conflitos armadosna região. O filme ganhou váriosprêmios, incluindo o prêmio doDoxaDocumentary Festival, em Vancouver,no Canadá;o PrêmioInternacionalouEmergingFilmmakernoHotDocs, em Toronto;oDocumentaryAwardGolden RocknoLittle RockFilmFestival.O filme também foiindicado para MelhorDocumentárionoFestival de Cinema de Tribeca.
Duração: 1 hora e 35 minutos. Elenco:AndréBauma, RodrigueMugarukaKatembo, Emmanuel deMerode e MélanieGouby.
Recentemente, o jornalista brasileiro Ricardo Boechat foi criticado
como sendo um relativista moral pelo blog Ceticismo Político. A crítica tem
como alvo as afirmações do jornalista em seu programa matinal do dia 17
de novembro, quando o jornalista passa a criticar o sentimento de vergonha manifestado
publicamente pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tal como transcrito
a seguir:
“O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso veio a público
para dizer que sentia vergonha do que estava acontecendo na Petrobras. Eu
queria fazer a seguinte observação: Acho que ele [Fernando Henrique Cardoso]
está sendo oportunista quando começa a sentir vergonha com a roubalheira
ocorrida na gestão alheia. É o tipo de vergonha que tem memória controlada pelo
tempo. A partir de um certo tempo para trás ou para frente você começa a sentir
vergonha, porque o presidente Fernando Henrique Cardoso é um homem suficientemente
experiente e bem informado para saber que na Petrobras se roubou também durante
o seu governo. ‘Ah, mas não pegaram ninguém!” Ora presidente! Dá um desconto
porque só falta o senhor achar que na gestão do Sarney não teve gente roubando
na Petrobras.”
Como
vemos, o jornalista realiza uma crítica à crítica manifesta publicamente pelo
ex-presidente. Neste sentido, ele desqualifica a indignação de Cardoso, por ser
ilegítima. Isto porque o sentimento de vergonha do ex-presidente, segundo o
jornalista, se volta apenas para os fatos recentes, pois ele “tem memória
controlada pelo tempo”. Trata-se de uma atitude “oportunista”, ele sentiria
vergonha apenas pela “roubalheira ocorrida na gestão alheia.”
Ao realizar
essa crítica da crítica, o jornalista (de forma intuitiva) estaria invocando um
argumento lógico conhecido como contradição performativa, ou seja, o sujeito A
não poderia ser contrário a uma ação que ele mesmo performa. No presente caso,
o ex-presidente não poderia se indignar com atos de corrupção que supostamente
teriam ocorrido também em seu mandato (1995-2002). Isto seria uma flagrante
contradição.
Mas essa
crítica de Boechat se constituiria como relativismo moral? O que é mesmo relativismo
moral?
O
conceito de relativismo moral pode assumir muitas formas, mas iremos resumi-lo
da seguinte maneira aqui: para o relativismo moral, os valores morais não podem
ser estabelecidos de forma absoluta ou universal, mas dependem do círculo e do
momento em que são produzidos. Cada cultura, em cada diferente momento histórico
definiria seus próprios valores morais. No limite, esse argumento levaria a um
niilismo ou ceticismo moral, pois não seria possível discutir o que é de fato
certo ou errado no campo moral.
Essa discussão pode se tornar mais rica, se nos deslocarmos para o âmbito da moral da ambiguidade. Simone
de Beauvoir, por exemplo, fala de uma ambiguidade inerente a existência humana:
o ser humano é, ao mesmo tempo, livre e determinado, podendo ser, ora, sujeito
ou objeto de ações morais, opressor ou oprimido. A autora francesa defende a
riqueza inerente a essa ambiguidade sempre fundamentada na singularidade,
criticando uma suposta necessidade de se manter submisso a regras sempre predeterminadas.
Nas palavras da filósofa:
“Para dizer a verdade, não somos jamais autorizados, em princípio,
a adotar alguma conduta, uma das consequências concretas da moral
existencialista, é a recusa de todas as justificações prévias que se poderiam
tirar das civilizações, da idade, da cultura – é a recusa de qualquer princípio
de autoridade.” (BEAUVOIR, Simone
de. Moral da ambiguidade. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1970.)
A moral como
tradição moral deveria ser descartada, pois é empobrecedora. Em lugar dela, para
cada caso, onde um ser humano singular está implicado, uma nova solução inédita
também deveria ser pensada, sem prerrogativas externas. Trata-se, portanto, de
uma moral individual, fundada no ser humano como ser histórico.
Nessa
perspectiva, o defensor de uma moral da ambiguidade diria que o sentimento de vergonha do ex-presidente seria justificável, pois
ocorreria em momento presente, temporalmente distante dos fatos ocorridos em
seu próprio governo. A corrupção do passado teria acontecido num outro
contexto, outras cifras, outros projetos e riscos para a sociedade estariam em questão.
O jornalista, ao contrário, seria insensível a isso e, por esta razão, critica o
ex-presidente. Neste sentido, ao invés do que se afirma sobre Boechat, ele deve sim, no presente caso, ser chamado de um universalista moral, i.e., aquele
que acredita na existência de valores morais universais. Em vez disso, os
autores do blog utilizam argumentos relativistas para acusar o jornalista de relativismo
moral:
“1- Existindo corrupção, existem as
mesmas provas que para os casos atuais? (ex. delações, entregas de evidências)
2-Mesmo tendo existindo corrupção,
ela chegou na mesma escala endêmica que no caso atual? (ex. dimensão de
envolvidos, valores)
3-Mesmo tendo existido algo neste
nível, a corrupção chegou a ser o projeto de um partido, ao invés
de casos isolados?”
Sem entrar no mérito de supostos entraves
na investigação ocorridos durante o governo do ex-presidente (por exemplo,
através da atuação do Procurador Geral da República, Geraldo Brindeiro, primo do
vice-presidente à época, Marco Maciel, que dos 626 inquéritos criminais que
recebeu, somente aceitou 60 denúncias), os argumentos dos blogueiros relativiza
o conceito de corrupção: é preciso que existam as mesmas provas, é preciso que
seja endêmica e é preciso que seja um projeto de partido. Caso esses três
requisitos não sejam preenchidos, as ações do passado não podem ser
classificadas como corrupção e, portanto, não podem deslegitimar o sentimento
de vergonha do ex-presidente Fernando Henrique. Fazendo isso, não se dão conta
de que estão utilizando argumentos relativistas. Parafraseando Heráclito: a
mesma corrupção não pode atravessar duas vezes a mesma empresa, porque na
segunda vez não é nem a mesma corrupção, nem a mesma empresa.
Obviamente, os dois contextos
precisam ser melhor estudados e comparados: o que era a corrupção no governo
Fernando Henrique e o que é a corrupção nos governos PT? Está seria a pergunta
central de um excelente projeto de pesquisa.
Por outro lado, é preciso estar
sempre alerta à ambiguidade moral defendida pelos blogueiros, pois ela sempre
pode assumir as feições que bem conhecemos no Brasil, lembrando aqui da célebre
frase atribuída a Artur Bernardes: “Aos amigos tudo; aos inimigos os rigores da
lei.”
Fernando Rodrigues - Compra de votos para a emenda da reeleição.
GuidoPalazzoé professor deética empresarialna Universidade deLausanne.Conhecido principalmentepor seus estudos acerca doimpacto da globalização sobrea responsabilidade das empresas, ele também estuda o comportamentoantiéticodentro das organizaçõese o impacto docrimeorganizado nas empresas e na sociedade. Nesta palestra, Palazzo aborda o consumo sustentável, refletindo sobre como os consumidores comprame jogam fora coisas a uma velocidadecada vez maior, com um impactonegativosobreo aumentodo bem comume, paradoxalmente,também sobre o bem-estar dos própriosconsumidores individuais.No iníciodo século 21, a humanidade é confrontada comriscos sociais e ambientaisde grande escala, como o aquecimento global,a poluição química, a acidificação dos oceanos, e a escassez de água. Enquantoalgumas empresasjá começaram ainovarem sua produção, as tentativas de consumo sustentável convencional falharamespetacularmente. Diante desse problema, Palazzo apresentanovas ideias sobrecomo mudaros corações e mentesdos consumidores. Duração: 16 minutos. Elenco:GuidoPalazzo.